convite

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18 de novembro de 2012 · 9:25 pm

antes que você parta pro teu baile

A pesquisa cênica Antes que você parta pro teu baile é um estudo sobre a obra da poeta carioca Ana Cristina Cesar e do movimento corpóreo de sua poética. Partindo de estudo literário que solicitou a presença do corpo em cena, essa peça se constitui como uma leitura possível de sua poesia. A eminência de se acometer no infinito como espaço cotidiano, de convívio, tensionado na beira e imaginando com dentes. Uma possibilidade, um outro olhar sobre o que não.

Antes que você parta pro teu baile é parte da pesquisa  “Ana Cristina Cesar: quando o corpo é palavra”, desenvolvida no curso de Letras e Literatura da UNIRIO, pela graduanda Isadora Bellavinha, sob orientação do Prof. Manoel Ricardo de Lima.

Direção: Isadora Bellavinha e Lucas Castelo Branco

Direção musical: Gabriel Carneiro, Rafael Forte e Tomás Gonzaga

Cenário: João Ney Castelo Branco

Figurino: Samara Niemeyer

Elenco: Bruna Félix

Dai Fiorati

Lucas Nascimento

Rodrigo Abreu

Produção: Daniel Uryon e Helena Castro

Apoio: UNIRIO e Rafael Moraes

 Antes que você parta pro teu baile, UM

Isadora Bellavinha e Lucas Castelo Branco dirigiram a peça Antes que você parta pro teu baile com base nos poemas de Ana Cristina Cesar. As apresentações ocorreram nos dias 25, 26 e 27 de setembro, em Copacabana, no antigo apartamento do escritor Jorge Amado. Devido ao lugar e ao fato de ter sido apresentada a poucos convidados, foi criado um ambiente íntimo, como, talvez, um convite à intimidade da escrita da poeta, escrita que se aproxima  do segredo, do relato sussurrado, do diário e da carta. Os atores procuravam encenar diferentes facetas de Ana Cristina Cesar e, ao mesmo tempo, se fundiam num único estrato. Tanto que em determinados momentos da performance numa conjunção com o cenário causavam certa tensão no público, remetendo este a um desequilíbrio causado pelo tom diverso dos textos de Ana Cristina Cesar. Os atores, o tempo todo, procuram expor a incerteza e o delírio, um certo desfalecimento do texto. Além disso, a peça parece sugerir uma crítica a alguns aspectos da própria crítica que sempre se faz sobre a poesia de Ana Cristina Cesar, quase sempre colada ao biografismo e ao suicídio como consagrada mitificação. [Isadora Marques]

 Antes que você parta pro teu baile, DOIS

A peça Antes que você parta pro teu baile, é um desdobramento da pesquisa de Isadora Bellavinha sobre o trabalho de Ana Cristina Cesar no sub-projeto de iniciação científica intitulado Ana Cristina Cesar: quando o corpo é palavra. Seguindo uma leitura de poemas de Ana Cristina como a ocupação do antigo apartamento onde morou Jorge Amado, em Copacabana, armou-se ali um clima e uma ambiência que vai da ocupação à intimidade. Os personagens, que parecem ter saído do livro utilizado no início da peça, apresentam uma possibilidade variada de leitura da intensa poesia de Ana Cristina. O uso exaustivo da repetição, faz com o que público possa refletir sobre um lugar para a poesia. Pequenas ações e detalhes ordinários do cotidiano – como um retrato em família – são postos em jogo pelos atores que apontam cada expressão nos rostos das pessoas que compõem a fotografia; e ainda, em outros momentos da peça, sugerem um sem número de conflitos internos da poeta, por exemplo, quando fixam o espelho ou quando sentados todos juntos na beirada da cama com os olhares fixos para o nada . Além dos poemas de Ana Cristina Cesar é importante reparar nos gestos e na performance que dão voz a um corpo que se funde com a palavra e a torna ainda mais viva e concreta. [Beatriz Matos]

 

Entrevista com Isadora Bellavinha:

Pergunta: A crítica habitual feita sobre Ana Cristina Cesar focaliza a sua biografia e o seu suicídio de maneira a separá-los do seu procedimento e de seus trabalhos, e essa questão parece ser levantada pela peça. Levando em conta que Blanchot, em O livro por vir, no capítulo IV intitulado “Joubert e o espaço”, a partir das afirmações de que temos frequentemente a impressão de que a morte do autor trará o silêncio e a calma à obra deixada a si mesma, e restabelecerá o segredo e encerrará o pensamento, se pergunta se “esse pensamento irá expandir-se ou restringir-se, desfazer-se ou realizar-se, achar-se ou perder-se? E ficará sempre só?” (BLANCHOT, p. 70, 2005), pergunto qual sua opinião sobre as leituras que têm sido feitas sobre os trabalhos de Ana Cristina, e qual deveria ser o papel do pesquisador diante delas. [Isadora Marques]

Resposta: É difícil falar de uma forma genérica sobre as leituras feitas sobre a escrita de Ana Cristina. Existem análises interessantíssimas, até bastante estruturalistas que remexem pelo olhar da forma todo o estatuto social e político. Na realidade, creio que as diferentes linhas de pesquisa que se proliferam em relação a poeta, da circulação da bela musa zona sul à dispersão da inefável Ana Cristina, muitas delas geram movimentos interessantes de reflexão e se alimentam. E ao pesquisador, que agora já entra num poleiro de críticas em relação à Ana, só cabe torcer outra margem, adicionar um discurso. Mas não é tão simples, afinal. Às vezes é ácido. A morte precoce de Ana Cristina Cesar não acalma nada, só dá a florescer – na minha visão, como projeto de ação, gesto. O pensamento, o poético vai sendo turvado pela possibilidade de leitura. Ana deixa esse espaço, o compõe, me parece. E daí não há silêncio que se estabeleça, só rumor. Acho que o pesquisador lida com perspectivas, com o diferente, e frente às leituras sobre os trabalhos de Ana Cristina não é outra coisa. O que pesa é o frescor e a fragilidade de tudo o que diz respeito à poeta. Mas se tem algo que se sobressai, pra mim é uma apologia da profanação, do uso, tão intensa na poética de Ana. Acho que vai por aí minha crença no pesquisador.

Pergunta: Os poemas de Ana Cristina Cesar são carregados de uma densidade emocional que leva o leitor a um estado de desconforto, gerando um fora de lugar. E na peça Antes que você parta pro teu baile, a união da performance com a palavra reforçou a sensibilidade que a poesia de Ana Cristina tem. Gostaria de saber como você construiu uma teatralidade a partir da poesia da Ana Cristina Cesar? [Beatriz Matos]

Resposta: É interessante você me perguntar como construímos uma teatralidade, porque é exatamente por aí: uma construção. Não visualizamos uma teatralidade na palavra de Ana Cristina à priori, mas uma cena no corpo, e daí tivemos que pensar um outro teatro, entre a poesia, o cênico e o transbiográfico. Acho que foi a constituição de uma outra coisa, que a gente quis chamar de poesia-cênica pensando que era novidade, e depois encontrei o termo nuns escritos do Juan Brossa, pra falar da poética dele. Outra coisa, mas tem tudo a ver. A pesquisa ficou muito entorno de se descobrir uma teatralidade do íntimo, a teatralidade da afetação do atores frente a esses textos. Desenvolvíamos vários jogos nos ensaios que mesclavam os textos com os testemunhos dos atores e com formas fixas de representação. Eu e Lucas anotávamos freneticamente as formas que emergiam nesses jogos e depois voltávamos aos textos pra tentar entender quais era os dispositivos literários que geravam aquelas formas ou que se encaixavam com elas. Discutíamos alguns poemas com os atores às vezes por três horas ininterruptas, tantas eram as divergências de compreensão, as possibilidades do texto. E nisso iam se armando desejos. Acho que o mais interessante foi essa abertura que os atores tinham pra desejar e fazer ou não aquilo, e trazer sempre outro olhar. O espetáculo mudava todos os dias, mesmo quando já em exibição, não só as nuances da interpretação mas a própria intensão que eles davam ao corpo. Existiu apenas uma premissa que guiou a concepção da peça: era preciso que fosse um movimento de dispersão e não de centramento. Queríamos que o espectador se perdesse, se frustrasse no movimento de compreensão e alcançasse só uma sensação do espetáculo e não uma lógica. E nisso eu acho que fomos até bem sucedidos.

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cartografias do contemporâneo

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21 de outubro de 2012 · 2:07 am

qual-quer

O blog-revista qual-quer tem por objetivo apresentar todo o material da pesquisa desenvolvida por esse grupo de Iniciação Científica em torno do procedimento e do pensamento poético-crítico de Ana Cristina Cesar, Cacaso, Hélio Oiticica, Paulo Leminski e Torquato Neto, sempre procurando armar uma indistinção, uma linha movente e heterogênea nas leituras dessa produção. Outro objetivo é implementar os trabalhos de composição de arquivo e de edição como partes fundamentais dessa pesquisa e desse exercício crítico. Assim, publicaremos também nesse espaço a revista experimental engrenagem, com responsabilidade editorial das alunas-pesquisadoras, com periodicidade bimensal a contar do dia 10 de novembro, 2012. Sejam bem vindos.

Almondegário

1 – Ponha a boca no mundo: assim não é possível. Ou então feche o riso e aperte os dentes de uma vez. Ponha a boca no mundo: somente assim é possível, louca, qualquer coisa louca de uma vez.

2 – Qual
Quer?

3 – Atenção para o refrão: tudo é perigoso etc. Atenção para o refrão: tudo é divino, maravilhoso. Atenção para o refrão: atenção para o samba exaltação. Atenção.

4 – Meu amigo preferido não me quer ferido pelo chão. Meu amigo mais incrível nunca foi possível em minha mão. Minha amiga mais maluca funde a cuca só pra me dizer que não. Minha amiga mais bonita é meu Irmão.

5 – Torno a repetir: ai, ai, ai. Torno a repetir, meu amor: ai, ai, ai. Onde é que você mora, em que cidade escondida, em que muda, qual Tijuca? Lá também quero morar.

6 – Qual
Quer?

7 – Quero porque quero este baião, baião de dois, feijão com arroz, pão seco de cada dia, negra solidão. Quero porque quero este balão, corado, fresco o bem machão: coragem, peito, coração.

8 – Ponha boca no mundo.

9 – Eu não.

10 – Todo dia é dia, toda hora é hora: quem samba fica. Quem não samba vai-se embora. E mais: todo dia menos dias mais dia é dia D.

[Torquato Neto]

Almondegário foi escrito por Torquato Neto e publicado em setembro de 1971 na sua coluna Geléia Geral do jornal A última hora. E foi a partir desse texto que nosso grupo de pesquisa pensou em nomear o blog de qual-quer. Sua leitura nos causou certo impacto; algo como uma perturbação que nos descentraliza, nos coloca fora de nós. “Ponha a boca no mundo” é uma expressão forte que pede um movimento, um fazer, um gesto. Uma ação qualquer e, por isso, comum, que se constitui com o sentido de ‘trabalhar junto’, o de uma comunidade onde cada individualidade tem a possibilidade de agir, de se manifestar e pôr a boca no mundo. E é nessa perspectiva que temos trabalhado para produzir uma pesquisa que se mova em direção ao conjunto de todos os objetos estudados, e que ao mesmo tempo faça cada um sobressair-se à sua maneira. Uma pesquisa que possibilite um encontro entre cada projeto, entre todos os tempos e afetos, e que se abra a outras leituras e imagens moventes, de modo a apresentar algo novo. [Isadora Marques]

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